quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Desafio: ser mãe de verdade.

Esses desafios nas redes sociais já tiveram de tudo. Tinha aqueles que jogavam baldes de água gelada na cabeça… Tem desafio da comida… Desafio de compartilhar um versículo bíblico… Desafio de tudo quanto é jeito. Particularmente, não costumo aceitar nenhum, por acreditar que uma postagem no “face” não vá mudar nem a minha, nem a vida de ninguém… Mas não me desagrado daqueles que aceitam, usam e até se divertem com os desafios. Assim como muitos fazem aquele questionário pra saber que bicho você seria, que personagem da “Marvel”, etc… São bobagens pra entretenimento e as redes sociais deveriam ser basicamente isto: entretenimento. E cada um se diverte com o que, de fato, o diverte. E cada um é diferente.
O desafio mais recente era sobre a maternidade. Vi muitas pessoas publicando textos favoráveis sobre a maternidade. E como vivemos numa cultura idiota do politicamente correto, onde você tem que dizer as coisas para agradar os outros, mesmo que não concorde, todo mundo trouxe apenas as belas coisas da maternidade. Sem dúvida, é muito mais bela do que dolorida. Se é que se pode contrapor bela a dolorida. É uma dádiva de Deus. O Salmo 128 fala de que é “feliz” o homem que tem muitos filhos, mas poderia ser também aplicado às mulheres. Assim como Deus se compara às mães, quando quer dizer que jamais esqueceria de um de seus filhos: “Será que uma mãe pode esquecer o seu bebê? Será que pode deixar de amar o seu próprio filho? Mesmo que isso acontecesse, eu nunca esqueceria vocês.” (Isaías 49.15).
Mas e se alguém quisesse usar o desafio para desabafar… Não são raros os relatos de mães que sofrem muito... E este é até um dos “motes” que se usa no Dia das Mães, para homenagear àquela que sofreu para que seus filhos vivessem melhor. Já ouvi pessoas dizendo, às vésperas do parto: “aproveite a última noite de sono tranquilo da sua vida.” E é mesmo assim: pais (pai e mãe) que amam seus filhos, jamais deixarão de se preocupar com eles e isso vai lhes tirar noites de sono…
O desafio foi aceito por uma jovem mãe, chamada Juliana Reis, 25, de São Paulo. Antes de comentar alguma coisa, veja o que ela escreveu no “face” (E também partes de um relato que ela fez para o jornal “O Dia”):
"Eu via as postagens de 'desafio de maternidade', as mães postando fotos felizes e pensei: 'Isso não é desafio, isso é moleza, parar meia hora para sorrir para foto'. Quis retratar que não é assim comigo".
Ela relata o que passou. Sua gravidez não foi planejada (aliás, aqui está o problema de muitas mães hoje)... “Muito pelo contrário, não estava nem em um relacionamento estável com o pai do meu filho”. E ela ainda tentou usar a “pílula do dia seguinte” que alguns consideram abortivo (eu mesmo não tenho opinião, preciso estudar mais para entender…), mas a pílula não funcionou. No dia das mães de 2015 ela recebeu o resultado positivo de gravidez. E assim reagiu: “Aquela Juliana morreu quando recebeu o teste positivo. Morri naquele dia. Não sou mais eu, olho para o espelho e vejo outra pessoa”. Segundo relatos dela mesma, até descobrir a gravidez, vivia uma vida inconsequente e sem responsabilidades, mas com a gravidez “comecei a ter uma urgência em relação à vida, comecei a ter arrependimentos e medos”. Parece que “caiu a ficha”. E eu diria: ainda bem, pois já conheci pessoas que tiveram filho depois de filho, com diversos pais deferentes, mas como sempre tinha os avós para cuidar, continuavam procriando irresponsavelmente, como animais soltos no pasto. Aliás, animais selvagens costumam procriar apenas quando já acabaram de cuidar da prole anterior…
A moça se incomodou com a própria gestação, pois muitas pessoas começaram a dar palpita da vida dela. E como pai, posso dizer: “como as pessoas dão palpite na sua vida!” Mesmo desconhecidos. A gente tá andando com a criança e sempre tem um pra criticar a roupa, postura, alimento… Sempre tem a receita de um chazinho, de um remedinho… E aí a gente sorri e diz, muito obrigado. E tem gente que parece saber melhor do que você o nome que você deve dar para os seus filhos. Essa também é uma reclamação da moça.
Quanto ao parto, há um movimento que parece querer dizer que mães que não têm o parto normal, não são mães de verdade. Isso é coisa de quem não tem o que dizer… Então mãe de crianças adotivas também não são mães? São Sim. Assim como aquela que teve seus filhos por cesariana, seja opcional, ou necessária, pois muitas são, pasmem, necessárias e não problema de agenda… Mas com essa “pressão” na cabeça, a moça queria o parto normal e se decepcionou por não conseguir: “Tudo o que eu precisava para me sentir um lixo de mulher que não conseguiu fazer o tão raçudo parto normal”. Não mulher. Você que não quis ou não conseguiu ter o parto normal, não é pior que as outras mães. Aliás, ser mãe é mais do que parir… E isso vai se provar nos dias subsequentes.
Hoje Juliana mora com sua mãe e o marido -- pai da criança -- e admite até reclamar de barriga cheia, por ter muita ajuda dentro de casa. Mas convenhamos que não seja a situação adequada. Já dizia o ditado: Quem casa, quer casa. E quantos problemas surgem porque as pessoas simplesmente vão se amontoando todas juntas, quando deveriam ter seu próprio “lugarzinho”.
E, por fim, a Juliana, trazendo a sua realidade de mãe desabafa: “ser mãe é isso e eu não gosto”. Reportagem na internet, de “O Dia”, ainda lembra que: “Além da intromissão de todos na vida dela e de seu bebê, ela sofreu muito com as dores da cesárea e com a falta de tempo. Apesar de conseguir amamentar ‘com um pouco menos de dor, isso não torna as coisas mais fáceis’, ela explica, porque seu filho mama toda hora e, às vezes, por uma hora inteira. A aceitação se fragilizava ainda mais quando ela se via descabelada, sem escovar os dentes ou mesmo tomar banho.”
O bebê ainda chorava muito… Alguns pais sabem bem o que é isso e como dói sentir-se impotente diante da aparente dor da criança que chora.
“Na hora que ele parava, eu pensava: ‘Vou tomar banho, dormir ou comer?’ Tem que ponderar o que é mais importante. São coisas como essas que me fazem não gostar. Então, se ser mãe é isso, não gosto."
Por fim, como não poderia ser diferente, ela afirma: “Amo meu filho e quero o melhor para ele. Então, é exatamente por me dedicar 100%, por querer o bem dele, que ele tenha estabilidade emocional e uma estrutura familiar boa que vou fazer tudo, mesmo que eu não goste, por ele”.
Nesse nosso mundo “politicamente correto” o que acontece quando alguém tem coragem de falar a verdade e não florear as coisas? O obvio. Censura. Muitos reclamaram da página dela e a página foi suspensa, mas já voltou ao ar.
Eu consigo compreender o que essa moça passou e passa. E todas vocês, mães que viram seus filhos doentes, ou em más companhias, sabem bem o que aquela moça vive. Talvez até já tenham pensado como ela, mas muitas, sem ter para quem falar e preferindo sofrer sozinhas do que “causar estresse”, acabam calando. Algumas vezes deveriam causar estresse, para que as pessoas vejam como é, de fato, ser pai e mãe (de verdade). E entrem, com toda alegria nessa tarefa, mas também com toda a responsabilidade.
Sou um pai que acompanha a vida da minhas filhas. Desde antes de nascerem. Acompanhei cada consulta de pré-natal. Estive presente nas noites em claro (que foram poucas, mas é uma bênção que nem todos recebem), estive presente no primeiro dia de aula e estou presente, junto com a minha esposa. Eu já a vi cansada. Já a vi a mulher de verdade que ela é, não essas "photoshopadas" movidas a silicone. Sei o que passa uma mãe de verdade e oro por todas as mães, para que seus filhos tragam alegrias infinitas, que compensem todo o esforço para que se tornassem pessoas de bem.


Jarbas Hoffimann é formado em Teologia e pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, em Nova Venécia. (pastorjarbas@gmail.com; facebook.com/pastorjarbas, @pastorjarbas)


Estes e outros artigos são publicados no Jornal Correio 9, de Nova Venécia (curta para ser avisado das edições diárias, leitura completa online):

Um comentário:

  1. Tem ainda outro sentimento que surge além da incompetência, inabilidade, insegurança... a culpa por não conseguir ser uma super mãe. Por querer dormir um pouco mais enquanto o bebê já resmunga a próxima mamada. :/

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